Ao
ler o capítulo 6 do evangelho de Lucas, vemos Jesus ensinando e curando, demonstrando
através de seus atos e ações a cultura do Reino de Deus, mas ao ler os versículos
27 a 36, algo me chamou a atenção, Jesus faz um pedido: “Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis...”
Pense
um pouco, quem estava ouvindo a Jesus? Eram agricultores, pescadores, coletores
de impostos, zelotes, prostitutas. Um grupo de pessoas simples, desqualificadas
aos olhos de uma cultura impiedosa e de autoridades religiosas que os oprimiam
e ainda estavam debaixo do jugo da servidão de Roma. Porém Jesus tinha algo a
dizer a essas pessoas, tinha uma mensagem de esperança para eles. Mas eles não
imaginavam o conteúdo da mensagem. Jesus estava ensinando a eles sobre a
misericórdia.
Eles
eram pessoas que tinham suas razões e motivações para terem inimigos de verdade.
Agora considere as ordens que Jesus lhes dá: “Amem seus inimigos, façam o bem a quem os odeia, não revidem o mal,
deem de bom grado a quem te pedir...” Pense bem no que Cristo estava
dizendo: Ele resume tudo na ordem final: sede
misericordiosos!
Amados,
meditando sobre este tema fiquei surpreso de como Jesus tratava com os fariseus
quando estes vinham questiona-lo acerca de pessoas para julga-las. Ele diz vão
e aprendam o que diz: Misericórdia quero e não sacrifícios (Jesus se refere ao
texto de Oséias 6.6):
-
1º ele diz: “Ide, porém, e aprendei o que
significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e
sim pecadores [ao arrependimento]. ” (Mateus 9.13)
-
2º ele outra vez diz: “Mas, se vós
soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis
condenado inocentes. ” (Mateus 12.7).
Se
refletirmos sobre o contexto onde Jesus cita estas duas exortações (Mateus 9.10-13,
Jesus estava ministrando o reino a pecadores, quando é questionado pelos
fariseus e Mateus 12.1-7, Jesus questiona o julgo que a religiosidade coloca
sobre as pessoas), podemos concluir que precisamos aprender acerca da
misericórdia. Misericórdia é uma palavra excepcional, pois ela descreve a
bondade, paciência e perdão de Deus por nós. A Bíblia nos ensina que a
misericórdia une o rigoroso dever da justiça à ternura do relacionamento
pessoal. A misericórdia explica como um Deus Santo e amoroso pode se relacionar
com um pecador sem comprometer o que Ele é. Isso é misericórdia. Essa é a
realidade da cruz que todo discípulo precisa experimentar, pois é o exemplo que
precisa ser seguido.
Queria
perguntar algo a você: Você conhece a Deus como um Deus de misericórdia? Outra
pergunta: Você tem olhado as pessoas com olhar de misericórdia? Sem
misericórdia as diferenças se tornam irreconciliáveis. E deixa eu te dizer algo
aqui: Não é a existência de diferenças e sim a ausência de misericórdia, que
torna situações e circunstancias irreconciliáveis. Sendo assim, gostaria de compartilhar
alguns pontos importantes que o texto de Lucas 6.27-36, nos ensina acerca de
exercer misericórdia:
1. Misericórdia em tempo real
Neste
texto de Lucas 6 Jesus nos ensina acerca da misericórdia, pois a misericórdia
não muda a necessidade de falarmos a verdade. Pelo contrário, ela transforma a
nossa motivação, passamos a representar Cristo em nossos atos e ações. A
misericórdia nos inspira a deixar para trás o poder e o domínio do
amor-próprio, da autocomiseração para atingirmos os princípios mais nobres e
reais da graça de Cristo que habita em nós.
Precisamos
entender que não somos apenas pecadores, mas somos também muitas vezes o objeto
do pecado de outras pessoas. Pessoas se tornam inimigas, começamos a achar que
tem pessoas que não gostam de nós, pois elas abusam de nossa paciência, roubam
a paz, fazem exigências desmedidas. Não levam em conta nossos sentimentos e
emoções. Por isso este texto de Lucas 6 é tão real, pois tudo o que Cristo está
citando acontece hoje em nossas vidas e a chave para sermos vitoriosos é a
misericórdia.
Quando
você consegue entender a misericórdia aos odiosos, violentos, egoístas e
perversos, você vai estende-la para os que te aborrecem, ignoram e te
decepcionam.
2.
Misericórdia
antes do erro
O texto de Lucas 6 não é um chamado a
atos de misericórdia discretos e isolados, mas uma disposição misericordiosa de
coração. É um chamado a bondade. Quando nosso coração está repleto de bondade,
a bondade antecipa-se aos nossos julgamentos pecaminosos (acredite, Deus nos
capacita para isso - vs. 36). Essa bondade que Jesus nos ensina neste texto
reivindica algo de nossa parte: Somos chamados a prosseguir na bondade que
temos recebido (Rm 11.22 diz: “Considerai,
pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade;
mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte,
também tu serás cortado.”
Nós não podemos esperar que as
pessoas pequem contra nós, para então, reagirmos com misericórdia. Em vez
disso, adotamos a postura de estarmos dispostos a perdoar. Não podemos nunca
esquecer que a bondade não tem sua origem em nós, e sim em Deus. Ela não é uma
característica de nossa personalidade, mas é um fruto do Espírito (Gl 5.22 e
Paulo diz aos colossenses: “Revesti-vos,
pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia,
de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. ” Colossenses 3.12.
Concluindo a pratica fiel da bondade
semeia em nós experiências da graça de Deus: “Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.” (vs.
36). Quando exemplos de bondade
são cultivados em nossa rotina normal da vida é que vemos o ensino de Jesus se
tornando real, ai entendemos o que Jesus quis dizer em damos a face ao inimigo,
ou então, andamos a segunda milha, são momentos de graça e bondade que
produzimos em tempos reais de nossa vida. Use o modo como você quer, ou deseja
ser tratado como medida para a maneira como você trata os outros. Então, essa
regra áurea é compreendida como meio de se evitar fazer inimigos.
Esta é a maneira que Jesus quer que
respondamos, em nossas reações quando somos atacados, caluniados, ofendidos,
sendo misericordiosos. Só é possível exercer misericórdia quando compartilhamos
a misericórdia que recebemos de Deus.
Amados, gostaria que você guardasse em
seu coração o sábio conselho de Tiago: “Sabeis
estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir,
tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz a
justiça de Deus.” (Tiago 1.19-20).
No amor de Cristo,
chico.